sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Dia 792- Eu desejo um gramofone


Eu não achava em nenhum lugar naquela época de 98, ainda que caro, que me vendesse agulha para nosso som com toca discos. Nunca achei.
A minha lembrança mais amarga hoje é ter vendido todos os discos da minha casa. As memórias, a representação das preferências de todo o meu grupo familiar.
Tinha Dire Straits do meu fraterno Humberto; Pixinguinha e Clara Nunes do meu pai; Julio Iglesias e Roberto Carlos, da minha mãe; Fábio Jr. da minha irmã Inês; A coleção inteira do A- HA e da Legião Urbana, de Henrique; à mim cabia os Menudos, Trem da Alegria, Paquitas e Xuxa. Tinha mais de cem discos: Lambada, Bossa Nova, Ópera, tantos, tantos preciosos, que dói- me na alma lembrar deles.
Mas disseram- me que nunca mais iria usá-los e que eu estava a ocupar espaços e deixá- los a me provocar alergias.
Disseram isso tantas vezes, que enchi- me de raiva. Vendi à preço de banana.
Culpo- me. E nesse sentimento, não me sinto no direito de comprar o objeto dos meus sonhos e comprar tudo de novo, agora muito mais caro, todos os discos que desejo.
O sentimento de perda que sinto, deve ser o mesmo de quem desencarna e sente falta das pessoas e da matéria que deixou para trás.
Apegada que sou, ter visto a oportunidade de vender nossos discos, deve ter sido minha primeira lição de perda, antes do desencarne do meu irmão.
E eu ainda não aprendi deixar para trás nem as coisas, nem as pessoas.
e fico aqui me punindo, não dando- me o direito de ter meu próprio gramofone.
Desejo desapegar- me dos discos que perdi, nesse ano de 2015.
Paz e Luz!

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