sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Dia 793- Dos 5 aos 33


Ficou dessa menina a mesma sinceridade de sempre, de quando alguma tia desconfiada perguntava: “Você gosta de mim?” E ela respondia prontamente: “Não. Da sua casa, só gosto de fulano e fulano”. 


Ficou o gosto de querer só beber em taças e comer em uma mesa bem arrumada, mas quando é feijão e abóbora, pede para comer no quarto, pois quer comer com farinha, pimenta e de mão, fazendo bolinha e comendo com gula (Hoje não pede mais para sair da mesa, pois está na própria casa e o marido não liga).

Ficou o gosto por rendas e bordados, de roupas de tecidos muito bons, mas compra numa boa na Baixa dos Sapateiros ou no Saara, porque a mãe não acostumou mal em apenas usar marcas.

Continua chata, tal qual quando era pequena: Não gosta de calor, fica chata; Não gosta de muito frio, fica chata; Não gosta de menstruar, fica chata; Não gosta de ouvir não, fica chata; Não gosta se não tem nada de bom na tv no seu dia de folga, fica chata; Não gosta de um monte de parentes e se lembra da existência deles, fica chata; Não gosta de não achar aquilo que quer comer, fica chata; Não gosta de aglomerado de gente, fica chata; Não gosta que deem- lhe apelidos, fica chata; Não gosta de brincadeirinhas, pois não tem senso de humor.

Ela é chata, mas as pessoas acham santa. É que ela não sai e nem interage em dias que fica chata.

É muito tímida para dançar na frente das pessoas. Mas se tocar samba de roda do Recôncavo da Bahia, não fica mais tímida.

Acha todo mundo lindíssimo ou lindíssima, porque encontra beleza em todas as pessoas. E é por essa razão que ninguém da família acredita quando ela diz:” Conheci uma nova amiga que é tão linda, tão linda...”

Quando não gosta, a pessoa pode ser bonita de verdade pro mundo inteiro, ela não acha, arranja defeito.

Não toma até hoje suco de beterraba com laranja. Enguia só de ver frango ensopado. Se cozido com pele então, arghhhhh.

E até hoje quando vai coletar sangue, pergunta ao enfermeiro (a): “Você já fez isso quantas vezes? As pessoas acham que você tem mão leve? Você pode usar agulha de criança? Deixa eu deitar um pouquinho antes, atende outra pessoa até eu me acalmar. Conta uma história enquanto tira meu sangue. Pronto, como você foi rápida, agora só quero você.”

Arrepia só em pensar em tomar mastruz com leite.

Tem nojo de pegar em jenipapo.

Acha lindo viver só de vegetais e frutas. Passa na boa sem carne. Mas se vê, coloca no prato.

É doida por comida: Baiana, mineira, eslovaca... é comida? Adora!

Não sai em dia de chuva com trovões e relâmpagos, cobre os espelhos e não atende telefone.E nada adianta falar para ela que o prédio tem pára- raio. 

Adora gente que chega abraçando.

É humana, muito humana, se preocupa com todo mundo, mas aprendeu a dar limites às pessoas e delimitar espaços.

Com o tempo passou a sonhar muito, ter premonições e cuidar dos seus dons. E ela não brinca com eles. Leva a vida muito à sério.

Adora escrever e desenhar. Adora falar de si, como uma catarse, num processo de autoconhecimento, de quem tem pressa, para saber se melhorou um bocado nesses 33 anos, de modo agradar o outro plano, porque a menina que ainda mora nela, tem medo de parar num lugar escuro.

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