sábado, 21 de fevereiro de 2015

Dia 800- No meu ashram!

A primeira vez foi para recuperar- me das muitas perdas que tive naquele ano. E foi depois dessa primeira vez que me transformei em tudo que sou hoje.
A segunda. Ahh a segunda foi para matar a saudade. A iridologista já existia e fugia de tudo que era cheio e barulhento. Fugia mesmo foi do campo de concentração que transformou o Rio na ocasião da visita Papal.
Dessa vez foi só por mim. A motivação primeira seria descansar? Afinal, não é só o que se faz num Spa? Mas esse não é qualquer Spa e eu fui em busca de desafio.
Ah não, sinto decepcioná- los. Não fui fazer escaladas, nem trilhas. Fui fazer o caminho que todo mundo foge para enfrentar: Para dentro de si mesmo.
Fui desencavar os meus medos, meus pânicos, meus preconceitos. Uma viagem sozinha, para o meu lugar mágico, sem nenhum sinal de internet, sem nenhum conhecido, no alto de uma serra, dentro de uma floresta, em Teresópolis.
O preconceito é aquele machista que trago dentro de mim e que me causa estranhamento hoje em carregá- lo comigo. Vivo a dizer da minha independência e do quanto gosto de ter a liberdade de tomar minhas próprias decisões. Até que não envolva o pai e a mãe. A menina saiu de casa. Mas os pais não saíram de dentro dela. Não faz tatuagem porque a mãe não vai gostar nada, nada. Ela formiga de vontade por uma flor- de- lótus, mas diz que não faz porque pode enjoar. Às vezes pensa que é isso mesmo, mas às vezes tem suas dúvidas... dava até outro dia satisfação de todos os seus passos. Deixou com isso. Tudo isso pareceu a Ana adulta, muito descabido. -Mãe, descabido é eu lhe dar satisfações. Eu já nessa idade, casada de papel passado ajuizado em cartório, cerimônia com padre católico, seis diplomas nas costas e com as vacinas em dia.
O pânico existe desde que seu mundo é mundo: Altura, trovão, relâmpago, catástrofe, sofrer um abuso, mata fechada, lugar escuro, longe de casa sozinha. Pronto. A viagem perfeita: Subir a Serra inclinadíssima, debaixo de um temporal daqueles na ida e na volta; permanecer no temporal com direito a relâmpagos bem feitos, trovões ensurdecedores, chuva, neblina, dentro da floresta, escuro total, sons de animais surpreendentes. A casa estava pronta. E eu fui.
Escolhi o melhor quarto (pois o enfrentamento tinha de ser com conforto), um pacote terapêutico com 7 tipos de massagens, a melhor comida do Rio de Janeiro, funcionários que me cuidaram como rainha e apesar de que todas essas coisas fantásticas são paliativos muito fracos perto de sintomas de pânico, descobri que finalmente encontrei o equilíbrio e enfrentei meus piores medos não só de cabeça erguida, mas até com senso de humor.
Resgatei o melhor da menina que fui: A que gostava de isolar- se dos pais e dos irmãos, para ler desenfreadamente. Em 4 dias, li um livro de 301 e outro de 264 páginas nessa viagem. Resgatei a Pollyanna tantas vezes criticada, mas é ainda maravilhoso poder viver de forma a tirar proveito até das coisas ruins. E como alguém que adora ter os pés cansados só para sentir o imenso prazer no escalda pés, amou a ausência do marido, pois voltou com o triplo de saudade.
Ah, devo dizer, não saí na varanda para apreciar os relâmpagos (é que estava muito frio, viu?!), fechei ora pois a cortina, porque desse tipo de pisca- pisca, eu não gosto. Mas não desesperei- me. Ok, tomei florais de cinco em cinco minutos até o medo passar, coloquei música relaxante, enchi a banheira de água quente e teve hora que brinquei em cima da cama fazendo um show para um público imaginário (nem acredito que estou assumindo isso). Ora pois que eu precisava tirar o foco daquela boate de animais toda lá fora.
Brincadeiras à parte, é que na volta descobri que a região entrou novamente em estado de alerta (lembram né? Daquela tragédia da chuva...), graças a Deus que só soube quando voltei. É que a Tv saiu do ar, o telefone também por conta dos raios. Desconfiei de alguma coisa quando vi as árvores caindo. Vi o som que faziam durante a queda e depois pelo caminho. Porque ver mesmo no ato, eu não vi, porque no meu caso, os que os olhos não veem, o meu coração sente. Ah se sente!!
Para fechar a minha viagem mágica, Deus envia um de seus mensageiros: Um senhor que estava na poltrona ao meu lado, presenteou- me com uma muda de gerânios brancos, assim do nada. Disse que deu- lhe vontade. E fez isso com tanta pureza que não tive outra escolha, a não ser aceitar.
Ao chegar em casa, fui fuçar, pois sei que cada flor tem seu significado. Pois vejam: “A flor do gerânio significa superação pessoal diante dos obstáculos. Mesmo sendo uma flor muito delicada, sua extrema resistência e capacidade de reprodução a colocam em posição de nos mostrar como é possível superar adversidades através da adaptação. “
Poderia ter algo mais cabível?
Deus mora mesmo em todos os detalhes... e os anjos conversam mesmo comigo!
Na foto: A paz que senti ao acordar lá, após meus dias de sobrevivente.
PS: Tenho de agradecer publicamente ao meu outro anjo encarnado, Nathi, uma das minhas melhores amigas que insistiu muito em levar- me para rodoviária, apesar deu ter repetido zilhões de vezes que não precisava, que eu estava bem. Tava nada. Estava ansiosa. E Nathi me cura. Lá na rodoviária encontrei o livro certo que aguçou todos os meus sentidos. Só dei conta que estava viajando, quando lá cheguei! Como pode? Como se sucedeu isso? Pois não sei. Só sei que Nathalia traz- me uma sorte danada, minha querida trevo de 4 folhas.

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