A cristaleira
 
 Foi numa tarde quente em Brumado, ainda criança, que ouvi as conversas,
 daquelas feitas quando o calor afasta qualquer passeio e quando os 
humores ficam mesmo piores por conta dele. Falavam da minha genitora. 
Algumas tias ocupavam- se em exaltar seus erros, esquecendo- se (?) que 
eu estava lá. Afastei- me. Não era bom escutar, mas mesmo de longe, 
ainda dava para ouvir uma ou outra coisa.
 Louca. Irresponsável. E outras palavras que não ouso dizer aqui. A 
cristaleira grande da minha avó, me distraía ... e olhando todos aqueles
 jogos de bules, xícaras e taças e toda a beleza delas faziam- me sonhar
  um sonho que naquela época não parecia ser meu. Lembro bem, que eu 
pensava por quê Deus deu- me duas mães, quando bastava- me apenas uma 
que ninguém dissesse coisa alguma, eu pensava... E que um dia, eu iria 
me casar, iria morar bem longe e não passaria mais por nada disso e ah! 
Que eu também teria uma cristaleira! 
 Hoje, arrumando a minha 
própria cristaleira, penso que um anjo muito bom escutou todas aquelas 
preces e o mais engraçado é que muitas daquelas peças que me salvaram de
 passar a vergonha de deixar que o choro preso na garganta saísse na 
frente daquelas senhoras, estão agora comigo, provando que há certas 
vantagens em ter duas mães (que vão muito além da herança dobrada, razão
 por estar com as peças! 
 ), mas eu tive o dobro do aprendizado e de bênçãos. A presença dessas 
peças aqui é a certeza, de que nunca estive só e que Deus me escutava, 
desde sempre!
 
 Paz e Luz!
 Ana
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